Dia 07 de Abril
Em uma Toyota 4x4 rodamos por mais de duas horas pela estrada. Somos seis pessoas dentro do carro. A professora é sueca, chama-se Gunilla e é quem dirige. A primeira vez que esteve em Moçambique foi na década de 70. Por muitos anos, ela viveu lá. Anders é sueco, nascido em Växjö, minúscula cidade em que eu vivi por um ano. Ele é uma pessoa muito viajada. Essa não é sua primeira visita ao continente Africano. Jonna é outra sueca viajada, porém não tanto quanto o Anders. Já esteve pela África, em diferentes países e no seu currículo entram malária e outras doenças “exóticas”. Jéssica é amiga dos outros dois há alguns anos. Também é sueca, e tem jeito de menina do interior. Essa é sua primeira vez em território africano. Sua grande viaje foi um intercambio de 6 meses nos EUA. Júlia é a única autentica moçambicana que nos acompanha. Ela trabalha numa organização de projetos para o desenvolvimento local, e nos ajudará a traduzir algumas coisas durante as entrevistas com aqueles que só falam a língua local e não o idioma oficial, Língua Portuguesa. Eu sou a sexta componente. Nunca pisei naquela terra, mas fui estudar na Suécia para poder fazer este estudo na África. Sinto-me cheia de gás e entusiasmo.
Apresentações feitas, seguimos pela estrada. Avisaram-nos que o percurso estava muito bom, todo asfaltado. O bom e o ruim sempre foram conceitos relativos! A estrada tinha asfalto, mas faltava acostamento. A pista mal dava para dois carros, apesar de ser mão dupla. As curvas eram muito fechadas e de pouca visibilidade. Os carros que trafegavam eram abarrotados de pessoas e com manutenção precária. Seguimos a aventura, porque de Lichinga a Metangula, só de carro.
A paisagem era bonita, montanhas verdes, árvores que parecem tiradas de quadros. Eu estava fascinada apesar de estar chacoalhando mais que batata ali dentro.
Cruzamos aldeias a beira da pista e muitas pessoas nos acenavam, especialmente as crianças. Resolvemos parar, esticar as pernas. Dezenas de crianças rodearam o nosso carro. Alguns jovens e adultos também nos observavam, mas à distância. Tiramos fotos. Todos querem ser fotografados, param e fazem pose.
Suecos e africanos juntos, eu me sinto no “meio do caminho”. Consigo entender algumas coisas das duas culturas, porém nenhuma delas é a minha. Procuro ser flexível e absorver tudo. Sinto que este é o momento de aprender sobre a cultura sueca. Agora, que meus colegas dependem de mim (porque falo português e os outros estudantes não), acredito que tentarão serem meus amigos, ao menos por necessidade.
Dia 08 de Abril
Eu rezei muito para o calor e ele chegou. Veio com toda a força da minha oração. Era domingo, um lindo dia de sol e fui ao lago Niassa/Malawi aproveitar minhas poucas horas de descanso. Fiquei na água todo o tempo que pude, aproximadamente duas horas e poderia ter ficado mais. Água quente e transparente, peixes ornamentais (que dizem existir, mais eu ainda não vi).
Duas branquelas e uma amarela (eu) de biquíni, refletindo um branco pálido adoentado da pouca luz sueca. Chamávamos a atenção. Todos paravam e analisavam nossos corpos sem a menor discrição.
Enquanto estivemos na água, as crianças nadaram ao nosso redor, em uma espécie de cinturão. Fomos os animais exóticos do local (por favor, não dê pipoca aos macacos, eu me lembrava!). Os pequenos tentavam brincar e chamar a nossa atenção. Nós só queríamos relaxar, um minuto de paz. Eu queria também esquecer o longo inverno nórdico, queria fazer com que o gelo que levava por dentro, que o frio que havia endurecido a minha alma se fosse.
Sinto que algo começa a mudar dentro de mim. Consigo relaxar e meu sorriso parece querer tomar forma outra vez.
Baby!!! Seus relatos estão emocionantes! Que palavras mais bonitas!!! É nítido que esta viajem a Africa foi libertadora e reveladora para você!! Estou encantado com as coisas que vc escreveu e as fotos (ou seriam pinturas?) que vc tirou?? Parabéns por essas 4 semanas da tua vida!!! Perfeito! Saudades!! Beijos
ResponderExcluirGuilherme Vilela
Baby! Que bom que vc gostou! Muitas vezes imaginei nós dois por aquelas bandas! Saudades! Espero poder contar todos os babados pra vc pessoalmente! Muitos beijos
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