Escrevo...


Por: Fabiana Massoquette

Escrevo o que penso, o que sinto, o que vejo

Escrevo também aquilo que almejo

Meu mais secreto desejo

Escrevo o que me falta

E o que me sobra

Escrevo aquilo que em mim transborda

Escrevo para curar-me

Escrevo para perdoar-me

Escrevo para adorar-te

Escrevo para devorar cada novo amanhecer

Eu escrevo para não enlouquecer

Pois minhas palavras gritam, suplicam e explodem

E o meu mundo elas sacodem

Falando o que não posso dizer

O que devo esquecer

Matando-me sem deixar-me morrer

Revivendo-me sem que eu tenha que renascer

Assim mantenho a pose

E pareço normal mesmo em close

Já que ninguém sabe o que aqui dentro passa

E eu, com minha máscara,

Brinco entre jogos e trapaças

De cinza e concreto


Poesia: Fabiana Massoquette


Eu deixo o tempo

Eu o abandono ao vento

E ele escorre entre meus dedos

Eu finjo que não tenho medo

Como uma torneira aberta escorre sua água

É o tempo que passa

E nada lhe escapa

Ele molha minha anágua

E eu fecho os olhos

Faço-o com força

Para que o mundo pare

E não mais se mova

Olhos que já não se abrem

Corações que já não batem

Dúvidas que me repartem

Meus sonhos são de cinza e concreto

O que eu quero é algo mais que certo

Sorriso em meio a impropério

Cansei de alegrar-me por obséquio

Sem mágica


Por: Fabiana Massoquette

Já não gosto do que escrevo

Já não sinto a mágica entre meus dedos

O que vejo aqui não me convence

Minha poesia? Um ato circense

Palavras ingratas,

Ou sou eu sem graça

Tentando inventar noites de luar

Para me inspirar?

Rimas tolas, solto pelo ar

Meu olhar já não brilha

Nada me inebria

Mato uma estrofe a cada dia

Da minha parca poesia

Plácido como jasmim


Ilustração: Rosa Lobato Faria

(http://nomundodafantasia-romy.blogspot.com/2009/04/jasmim-de-rosa-lobato-faria.html)

Poesia por: Fabiana Massoquette


Eu o amo de forma pura e singela

Eu o amo, mesmo que ele não me recite Florbela

Eu o amo aqui, e em qualquer esfera

Eu o amo sabendo que é longa a espera

Eu o amo com o que há dentro de mim

Eu o amo com a placidez de um jasmim

Eu o amo, mesmo que ele não veja sentido em minhas palavras

Eu o amo, mesmo que ele pense que das metáforas, sou escrava

Eu o amo, mesmo sabendo que já não sou quem eu era

Eu o amo ainda que já não seja primavera

Eu o amo, mesmo sabendo que mudarei

Eu o amo, mesmo sabendo que a tudo findarei.

Quando estás


Por: Fabiana Massoquette

Às vezes, finjo que te amo

Às vezes, acredito no que finjo

Às vezes, fico parado,

Indeciso!

Às vezes, eu te quero bem perto

E outras, não sei bem ao certo

Teces uma teia invisível

E o mais incrível

É que pareço querer estar presa

Nessa cadeia que me ata

Com um carinho que embaça

meu argumento

Mas serei eu tão rabugento,

A ponto de não saber deixar-me gostar?

Nem ao menos sei dar,

Ao amor seu lugar?

Como resposta,

Deixo-te ficar!

Desconexo


Por: Fabiana Massoquette


Confuso, desconexo

Hoje, sinto-me ao reverso

Eu te amo

Mas é só em teu universo

Perdido, deixo meu corpo

Em teu corpo impresso

Aqui, o tempo passa

O que vivo soa trapaça

Porque lá fora a realidade

É sem graça

O mundo indiferente segue

Mesmo que eu negue

Ainda que parado eu fique

Para que eu não me revele

E ninguém desvele

O que tenho como certo

Meu eu mais concreto

E, nós voltamos ao quarto

Eu dou início ao ato

Em que crio um elo

Fazendo cruzar

Meu meridiano

Ao teu paralelo

Inventado minha cartografia, navego

Com meu caleidoscópio, observo

E em terreno submerso

Eu te peço

Favor não vide o (meu) verso

Porque minhas idéias... algo incerto

Mas, aqui, tudo é indubitável

Nosso amor, inefável

Teu sentimento, inquestionável

Mas ao cruzar a fronteira

Sinto-me sem eira, nem beira

Desato laços de ternura

É algo de poeira que chega e nubla

Meu olhar turva

E eu nem sei porque.

O que sinto


Por: Fabiana Massoquette


Passo os dias pensando

Em ter você por perto

Talvez isso seja tédio,

Talvez seja paixão

Talvez só falta de emoção

Ou é o tempo que me sobra

A agonia que me enrosca

Vontade de lhe ver

Estar com você

Talvez seja para preencher um vazio

Talvez seja para abrigar-me do frio

de recomeçar

E se o nosso não for nada

Se meu sentimento for uma cilada?

E se seu peito é só uma parada

Na minha longa estrada

Como explicar

gostar de lhe ouvir coisas tolas contar?

Com cara de boba, deixar-me aninhar

E em seu peito, deitar

Beijando-lhe sem jeito,

Faz o tempo parar!

Por que preciso contar-lhe sobre tudo e sobre nada?

Tocar-lhe falando com os olhos, sem dizer palavra?

Segurança?

Confiança no futuro?

Vontade de descer do muro?

Não!

Eu não posso ser tão fria!

Isso seria heresia!

Pura ingratidão!

E como punição,

Mil anos de solidão!