
Poesia: Fabiana Massoquette
Eu deixo o tempo
Eu o abandono ao vento
E ele escorre entre meus dedos
Eu finjo que não tenho medo
Como uma torneira aberta escorre sua água
É o tempo que passa
E nada lhe escapa
Ele molha minha anágua
E eu fecho os olhos
Faço-o com força
Para que o mundo pare
E não mais se mova
Olhos que já não se abrem
Corações que já não batem
Dúvidas que me repartem
Meus sonhos são de cinza e concreto
O que eu quero é algo mais que certo
Sorriso em meio a impropério
Cansei de alegrar-me por obséquio
Quando li o título deste poema lembrei-me de imediato de Niemeyer, o artista do concreto. Nas primeiras duas estrofes isto logo confirmou-se uma vez que o grande arquiteto exprime em suas obras a primazia do movimento, do vento. Mas este sentimento encerrou-se aqui.
ResponderExcluirSeguindo a leitura, uma solidão embalada pela melancolia espalhou-se pelo meu habitat e invadiu o meu eu mais profundo. Deixei-me viajar neste (meu) ambiente insólito da tristeza que teimou em condensar-se – agora o meu cinza e concreto. Foi então que voltei-me para Maysa, que diferente dos outros, não a percebo deprimente, simplesmente triste, e como ninguém tão bem soube cantar os temas mais lindos de profundo (des)amor – chorar de tristeza, de tristeza de amar.
Diferente de você em que é o tempo quem passa e nada lhe escapa, o tempo de Maysa não passou, ela o deu por terminado. E enquanto você fecha os olhos para que o seu mundo pare, os lindos verde olhos de Maysa mostravam um mundo muito maior do que ela pressentia.
Mas em comum, neste poema, você e Maysa têm os olhos fechados no sentido de manter o mundo parado naquilo que foi mais que sublime e feliz, como quem não quer perder nada, absolutamente nada de tal felicidade. O coração já não bate “saudade vem e fica perto, é aquele cheiro de saudade do amor que está distante, folhas de saudade, saudade, resto de amor” … os seus sonhos são de cinza e concreto.
Mas a estática também tem o seu tempo e portanto as dúvidas invadem, repartem seus pensamentos … os olhos voltam a abrir, o coração volta a bater e portanto o seu desejo é ter algo mais que certo. Mesmo assim ambas são únicas em todos os sentidos. Uma espécie de fenómeno em que unem a beleza, o talento, a rebeldia, disfarçada de meiguice, com olhos e sorriso encantador. Como você compõe seus poemas, Maysa compunha a sua própria música. E você e Maysa exprimem seus profundos sentimentos naquilo que compõem e cantam (sim, agora este parêntesis é propício, pois além de compor você sabe cantar). Mas serei justa, ela (Maysa) como ninguém, com profundo sentimento, cantava dando maior credibilidade a cada palavra que deixava traçada no papel. Você, como poetisa, dá veracidade ao seu sentimento na expressão escrita do poema, por isto não se alegra por obséquio, é pura e verdadeira até mesmo em cinza e concreto.